sunday love is so cold

caramba, como tenho dormido mal nos últimos dias. de ontem pra hoje deve ter sido uma das piores noites. zanzei pra lá e pra cá na cama, nem o cansaço da insistência me pôs a dormir. tive um sonho longo, esquisito, escrevendo isto me recordo de falar pra minha mãe jogar no bicho, vai que. eu era mordido por dois animais: um rato e um cachorro, mais tarde. me tratavam com o nome morto e às vezes eu pensava em me deixar morrer mesmo, mas a cena das minhas mãos se endurecendo e entortando eram apavorantes demais. depois sonhava que meu gato se perdia numa enchente e ele aparecia de volta, surgindo dentro de um túnel, nadando. sequer consigo imaginar o Theo nadando hoje.

levantei na esperança de que jogar uma água no rosto fosse ser de alguma ajuda. para a minha surpresa, minha mãe já estava acordada, passando matéria a limpo! eram 4h e pouca da manhã. minha mãe voltou a estudar tem algumas semanas, o que tem diminuído bastante o tempo em que nos vemos. claro, isso não tem reduzido algumas brigas. reiterei até pouco tempo que iria embora de casa. pensando, assim, já sinto saudades com certa antecipação. mas minha curiosidade é tanta que não posso me ver dentro de casa até agosto. é preciso que eu vá, só para saber se é isso ou não.

e a minha vizinha, como será que ela está? deveríamos ter nos visto há algum tempo. mas um imprevisto apareceu. algumas horas depois, me perguntei, eu poderia ter perguntado se estava tudo bem. só que, considerando que já havia se passado algumas horas, pensei que soaria artificial perguntar se estava tudo bem, já que minha resposta foi curta e grossa. essa situação me desarmou completamente. minha reação? chorei durante a semana inteira. chorei até 10 minutos antes de receber o aviso que o encontro da sexta estava cancelado. justifica minha forma de responder? não sei. agora eu circulo pelo bairro com certa preocupação. quais são as chances de dobrar uma esquina e dar de cara com ela? bem, 50/50. não saberia reagir. me pergunto se o mesmo passa pela cabeça dela em algum momento. em respeito ao que tivemos... é tudo tão simples assim?

na quinta, busquei minha certidão de nascimento retificada. estava feliz, mas me sentia sozinho. fui em uma pequena igreja no centro da cidade em busca de silêncio confortável. o padre repetia a reza de nossa senhora. comecei a chorar. tinha algo no olhar do padre que não inspirava conforto, claro. um sapatão de cabelo colorido acabou de entrar no espaço dedicado aos filhos e filhas dignos de deus. desde o momento em que nasci, os dados foram lançados. tracei uma rota muito diferente da que planejaram para mim. porém, esse olhar pouco amistoso não foi o suficiente. fiquei. eu gosto de observar os detalhes de uma igreja, as portas que talvez nem todo mundo pode transitar. a disposição dos santos. o som incessante dos ônibus e carros passando atrás de mim. uma grande peça iluminada de nossa senhora no centro da igreja. e o silêncio, que é mais que silêncio quando o padre enfim para de falar. esqueço que antes disso, na outra calçada, entro numa loja de itens religiosos e sou direto: quero um panfleto de são judas tadeu. me custou dois reais, mas agora estou em posse da reza oficial do santo dos desesperados. porque lá no fundo, eu sei que estou desesperado. por algo, por alguém, por mim e pelo momento de vida em que me encontro.

depender de mim para que a engrenagem continue rodando é absolutamente desesperador. rezo por força, obstinação. rezo para que eu não desiste com tanta rapidez diante da primeira dificuldade. rezo por um sopro de vida, porque às vezes acho que me permeei de morte ao longo de todos esses anos e agora não sei mais escapar disso.

minha mãe me pergunta se tem algo me perturbando. ela não sabe de absolutamente nada do que tem se passado na minha vida nos últimos meses. tenho me sentido confiante até para me cortar e não me cobrir, ninguém vê. mesmo quando o esparadrapo fez uma tremenda alergia e parece que eu me queimei ao invés de me cortar. é esse meu panorama. autodestruição em silêncio. alegrias em silêncio.

se não fosse a escrita, já teria enlouquecido.

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