moment’s already passed. yeah, it’s gone. (28/01/2023)




na terça, decidi não participar das atividades costumeiras do dia. faltei ao alemão, ao grupo de gênero. estou deixando as coisas acumularem. fiz isso porque não queria ver meu rosto ou ouvir minha voz.

vi que o paul mescal foi indicado ao oscar na categoria de melhor ator por aftersun. me dei conta que estava há alguns meses postergando essa ida ao cinema. sempre que posso dou preferência à tela grande. pensei: talvez eu possa me levar pra passear.

na quarta, acordei com a constatação que estava sem luz em casa. just great. era o ensejo que eu precisava. uma das alegrias do dia foi ter pego um ônibus com aquelas paradinhas pra recarregar o celular em pleno funcionamento, só faltou o ar condicionado. a segunda foi ter comido uma fatia de pizza deliciosa de calabresa e cebola (me patrocina, vezpa).

tratando-se de mim, não tem como ser só alegrias. fiz um corte simpático no meu dedo tentando abrir a garrafa de cerveja, sujei minha bolsa com meu sangue. aliás, eu só percebi o corte quando vi o sangue. em cinco minutos eu consegui sair do cinema, pedir pro jornaleiro abrir a garrafa pra mim (que vergonha) e voltar a tempo pra não perder o começo do filme, o que seria muito ruim.

o que eu posso falar sobre aftersun? é um tanto confuso. assim como tentar desembaralhar e reorganizar memórias de infância. o paul mescal é lindo. acredito que teria sido uma criança mais feliz se a presença paterna fosse na verdade, ausência paterna. no momento em que a sophie começa a cantar losing my religion sozinha, num palco diante de estranhos, implorando com os olhos que o pai viesse para cantar junto, eu chorei. consegui me reconhecer naquele mesmo lugar. o final do filme também me fez chorar, mas já não sei o porquê. saí do cinema com uma cara de choro meio impossível de disfarçar.

é sábado. acho que estou escrevendo essas coisas só para não perdê-las da memória. tem sido muito fácil me deixar levar por remorso, culpa e incerteza. deveria haver mais opções pra lidar com isso do que me cortar e sublimar através da escrita, eu disse ontem na minha análise. disse isso porque só queria chorar, mas essa é a parte mais difícil. ela me respondeu algo no sentido de que nenhuma dessas opções deveria ser aquela que vai esgotar esse sentimento de uma só vez. mas era isso que eu queria. eu queria tanto sumir com esse mal-estar. hoje, eu só consigo escrever e escrever e escrever e esse só não basta. não consegue bastar. a sessão foi encerrada com um corte dilacerante, mas crucial: eu não me importei comigo naquela noite. isso já é o suficiente pra perder um certo brilho no olhar. e com razão, eu perdi.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

abertura

pockets full of stones (17/12/2022)

desespero? (28/05/2024)