go as a dream (11/07/2023)

 


quando um texto é lançado ao mundo, ele deixa de ser propriedade do autor. agora, quando se conta um sonho pra alguém, o que acontece? freud já dizia que o intérprete do sonho é quem o sonha; será mesmo? é preciso antes falar — e não basta falar aos quatro ventos — é preciso falar para um outro que empresta a sua escuta. mas não estou falando de um contexto de análise, graças a deus. sendo assim, dou a resposta: tal como um texto lançado ao mundo, um sonho contado possibilita inúmeras leituras, releituras, interpretações e reinterpretações; uma ruptura com aquilo que é da ordem do mais íntimo, próprio de um inconsciente que se manifesta das mais diversas maneiras, atrelado ao ensejo social da partilha num simples e corriqueiro sonhei com você. que, é claro, de simples e corriqueiro não tem nada. tomei a liberdade de me apropriar, quase como se fosse meu. o nome que eu escolhi surgiu disso, de um sonho que não fui eu quem sonhei, mas que passou a ser no momento que ela me contou. de pequenas coincidências que talvez não sejam tão pequenas assim. de pensamentos que já me sondavam mas nunca encontraram espaço que coubesse. curiosamente, eu considerei abraçar esse dado apenas como algo entre eu e ela, quase como um segredo que eu queria manter seguro. só que ela é uma caixinha de surpresas e esse segredo não durou muitos dias. o que é ótimo, juro! esse nome me caiu feito uma luva, ou feito um casaquinho bem confortável quando começa a esfriar demais. e assim como um texto publicado ou um sonho contado, um novo nome suscita muitas interpretações, muitas perguntas e mais importante, não apenas a morte de um autor, mas a morte de um nome antigo que já não pertence mais a esse corpo e que, de bom grado, abriu passagem para que o novo pudesse advir e ser abraçado. sim, algo foi plantado: a possibilidade de experimentar uma mudança sem sentir tanto medo.


quase um ano depois, suponho ser importante relatar que agora, judicialmente, esse nome novo é realmente meu. ainda sinto um tanto de medo e agora, trilhando esse caminho realmente sozinho, não posso evitar a não pensar no passado. é algo bastante rael, essa protelação, essa constante avaliação dos riscos. acaba que não tem como viver sem correr um pouquinho de risco, para bem e para mal. acho que já escrevi isso em outro texto. mas as coisas de fato se repetem, elas não cessam de repetir. só que dessa vez... acho que não tem como. o silêncio impera enquanto resposta. acho que o que vai me restar é a lembrança das costas dela enquanto ela dormia. sabe, hoje eu sonhei com ela. sonhei que ela estava na minha casa, no meu sofá. o cabelo dela estava num tom de azul incrível. acordei, sabia que tinha sonhado com ela mas por alguma razão as imagens se perderam da minha memória - de repente, num piscar de olhos, lá estava a lembrança martelando na minha cabeça. todo sonho é realização de desejo. e neste sonho a minha fantasia estava intacta, tudo acontecia da maneira como eu gostaria. comecei o dia com a lembrança do rosto dela e encerro o dia com a lembrança das suas costas, na cama dela, na casa dela. i could stare at your back all dayi could stare at your back all day.

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